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O Drex, moeda digital do BC, avança com criptografia pós-quântica, garantindo segurança contra ataques de computação quântica - Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil |
Demanda requer investimentos públicos em conhecimento técnico e infraestrutura tecnológica nacional
A colaboração entre startups e grandes bancos tem se intensificado, acelerando o desenvolvimento de tecnologias de pagamentos e novos modelos de crédito no Brasil. Esse movimento, impulsionado por fintechs e inovações tecnológicas, está redefinindo o sistema financeiro nacional, que antes era marcado pela concentração de poder e hegemonia na distribuição de produtos e serviços. Hoje, a descentralização e o surgimento de novos players configuram um cenário dinâmico e competitivo.
Essa transformação, em curso há pelo menos duas décadas, é liderada pelo Banco Central (BC) e tem resultado em uma série de normativas e reformas que favorecem a implementação de novos modelos de negócio. A popularização das parcerias entre grandes instituições financeiras e fintechs é um exemplo claro dessa evolução. Juntos, bancos e fintechs expandem seus portfólios e lançam soluções que contribuem para a criação e popularização de novos modelos de crédito e serviços financeiros no país.
No entanto, para que o Brasil consolide sua posição como líder em inovação financeira global, é essencial que o governo invista em conhecimento técnico e infraestrutura tecnológica desenvolvida localmente. A dependência de tecnologias estrangeiras e a falta de investimentos robustos em pesquisa e desenvolvimento (P&D) podem limitar o potencial de crescimento e a autonomia do país nesse setor estratégico.
Alexandre Uehara, especialista em inovação financeira, tecnologia e fintechs, ressalta que o surgimento dessas empresas já foi visto como uma ameaça, mas hoje é encarado como uma oportunidade. “Existe uma percepção mútua dos benefícios para ambos os lados”, afirma. No entanto, ele alerta que, sem investimentos públicos em capacitação técnica e infraestrutura, o Brasil corre o risco de ficar para trás na corrida tecnológica global.
O Inter, primeiro banco a migrar para a nuvem em 2016, é um exemplo de como a inovação tem sido priorizada. O banco mantém uma área dedicada à pesquisa e desenvolvimento de novas soluções, como o Drex, moeda digital proposta pelo BC, que tem levado instituições a repensar a tokenização de ativos. Bruno Grossi, gerente de Tecnologias Emergentes no Inter, destaca que o banco busca colaborar ativamente com o desenvolvimento de tecnologias que impactarão o mercado financeiro nos próximos anos.
Para acelerar essa curva de aprendizado e adoção, o Inter estabeleceu parcerias com a Universidade de São Paulo (USP), Fundação Getulio Vargas (FGV) e Microsoft, em 2024, para estudar a aplicação de criptografia pós-quântica ao Drex. Essa tecnologia é essencial para proteger transações contra ataques de computação quântica, um campo que representa a nova fronteira da ciência computacional
Além disso, o banco tem investido em blockchain, inteligência artificial (IA) e computação quântica, áreas que devem revolucionar o mercado financeiro. Grossi ressalta que a IA já é amplamente utilizada no Inter, com muitas áreas explorando seu potencial de forma avançada. “Nosso objetivo é encontrar maneiras de utilizar a IA generativa de forma inovadora, que não esteja sendo usada por outros bancos”, diz.
A PagBrasil, empresa brasileira de pagamentos digitais, também tem buscado parcerias internacionais para posicionar o Brasil como pioneiro em inovação financeira. A empresa exporta o Pix, tecnologia brasileira de pagamentos instantâneos, para instituições financeiras de outros países, permitindo que turistas e estrangeiros utilizem o sistema durante suas visitas ao Brasil. Ralf Germer, co-CEO da PagBrasil, destaca que a colaboração com grandes instituições traz vantagens competitivas para ambos os lados.
No entanto, para que o Brasil continue a inovar e competir globalmente, é crucial que o governo invista em infraestrutura tecnológica e capacitação técnica. A falta de investimentos públicos em P&D pode limitar a capacidade do país de desenvolver tecnologias próprias e reduzir sua dependência de soluções estrangeiras. Além disso, é necessário fomentar a formação de profissionais qualificados em áreas como criptografia, IA e blockchain, garantindo que o Brasil tenha mão de obra especializada para impulsionar a inovação.
Enquanto a colaboração entre fintechs e bancos tem gerado avanços significativos, o governo precisa assumir um papel mais ativo no fomento à inovação. Investimentos em conhecimento técnico e infraestrutura tecnológica são fundamentais para que o Brasil não apenas acompanhe, mas também lidere a revolução financeira global. Sem isso, o país corre o risco de perder a oportunidade de se consolidar como um hub de inovação financeira e tecnológica.
Revolução no Mercado Financeiro
Especialistas concordam que a inovação no sistema financeiro brasileiro continuará a evoluir com base em tendências já em curso, como inteligência artificial (IA), tokenização de ativos e o avanço do Open Finance. A IA, em particular, deve se concentrar no amadurecimento regulatório e na personalização da jornada do cliente, oferecendo experiências customizadas em larga escala. Alexandre Uehara destaca que essa personalização será um diferencial competitivo para bancos e fintechs.
No Inter, a IA já é amplamente utilizada para aumentar a produtividade, e Bruno Grossi acredita que, nos próximos cinco anos, tanto a IA quanto a computação quântica serão prioridades para a indústria. Além disso, Uehara prevê que as parcerias entre instituições financeiras e empresas de outros setores, como varejo e energia, devem se expandir, ampliando o potencial de inovação e criando sinergias que vão além do mercado financeiro. Essas colaborações podem impulsionar ainda mais a transformação do setor.