5CNCTI: 30/07/2024 - Eixo II - Desafios e Perspectivas para a Indústria de Semicondutores no Brasil - Foto: Diego Galba (ASCOM/MCTI) |
Um olhar sobre o futuro: Formação de talentos e a urgência de políticas públicas para o desenvolvimento de chips
Durante a 5ª Conferência Nacional de Ciência e Tecnologia, a Professora Dra. Linner Ruiz, Presidente da SBMicro, apresentou um painel sobre os desafios e as perspectivas para a indústria de semicondutores no Brasil. Com uma trajetória de mais de cinco décadas, a microeletrônica no país destaca-se por sua contribuição acadêmica e pela resistência dos seus laboratórios de pesquisa e produção de chips, únicos no hemisfério sul.
Desde a produção do primeiro chip brasileiro em 1971, o setor tem demonstrado capacidade e talento, evidenciado pela formação contínua de profissionais qualificados e pela produção de conhecimento de alto nível. Contudo, a falta de políticas públicas consistentes e a evasão de talentos são desafios significativos para o desenvolvimento do setor. Ruiz destacou a importância de uma educação técnica com um perfil empreendedor, visando não apenas o domínio técnico, mas também a capacidade de gestão e inserção no mercado.
A demanda por profissionais qualificados na área é alta, mas o Brasil enfrenta uma fuga de cérebros, onde muitos profissionais formados acabam migrando para o exterior, atraídos por melhores oportunidades salariais. A capacitação de talentos precisa estar alinhada com as necessidades do mercado e com as inovações tecnológicas globais. A professora enfatizou que, para reter esses talentos, é necessário despertar o interesse pela tecnologia desde o ensino fundamental e médio, promovendo uma cultura de inovação que fomente o pensamento crítico e a criatividade.
O exemplo de Taiwan foi mencionado como um caso de sucesso na formação de uma indústria robusta de semicondutores. Entre 2011 e 2015, o país investiu pesadamente na capacitação de talentos, resultando na criação de inúmeras startups, patentes e parcerias entre academia e indústria. Essa sinergia entre pesquisa e demandas empresariais é apontada como uma estratégia essencial para o Brasil alcançar uma posição de destaque no mercado global de semicondutores.
O cenário brasileiro atual é desafiador. A falta de infraestrutura adequada, como a ausência de licenças para projetos de software em laboratórios acadêmicos, e a distância entre academia e indústria são obstáculos a serem superados. Além disso, a participação feminina na área é ínfima, representando menos de 2% dos profissionais, o que aponta para a necessidade de ações inclusivas para atrair e reter mais mulheres no setor.
Iniciativas como o projeto MANNA BR, que leva ensino de tecnologia a escolas públicas em diversas regiões do país, e o programa APCI Jovem, que oferece treinamento e apoio a estudantes de graduação, são exemplos de esforços para reverter essa situação. Essas ações buscam não apenas formar profissionais, mas também criar uma consciência sobre a importância da tecnologia e da inovação para o futuro do país.
O painel concluiu com uma visão otimista, mas realista: é crucial investir em políticas públicas que promovam a formação e a capacitação de talentos com perfil inovador. A meta é projetar o Brasil para o mundo e, quando possível, fabricar semicondutores em larga escala, consolidando uma indústria nacional forte e autossuficiente.