Alexandre Baldy, presidente do Conselho da BYD Brasil ao lado de veículo elétrico na cor prata da montadora chinesa (Foto: Divulgação) |
Companhia vê espaço para verticalizar toda sua produção no país, alinhada aos projetos dos governo de reativação da indústria nacional
Por Gabriel Chiappini - EPBR
RIO – A chinesa BYD promete verticalizar toda sua produção de veículos elétricos no Brasil, desde a exploração e beneficiamento do lítio, passando pela fabricação de baterias, até a produção de ônibus e automóveis.
Diferente do resto do mundo, no Brasil, o híbrido flex a etanol também fará parte do portfólio da companhia.
A ideia, segundo disse o presidente do Conselho da BYD Brasil, Alexandre Baldy, em entrevista à agência epbr, é “fazer do Brasil um hub regional na América Latina para a BYD”.
A estratégia está alinhada com as recentes decisões do governo federal, que esperam desenvolver a cadeia produtiva nacional e acelerar o processo de descarbonização da frota brasileira, com o lançamento do programa Mover e a volta da taxação de elétricos importados.
Além disso, a aprovação do Congresso Nacional pela a manutenção, até 2032, dos incentivos para o setor automobilístico no Nordeste na reforma tributária, também solidificou a decisão de investimentos da companhia na Bahia.
A BYD espera investir R$ 3 bilhões em um complexo fabril em Camaçari (BA) – assumindo a antiga fábrica da Ford – para fabricação de veículos elétricos e processamento de minerais críticos.
“A reforma tributária foi muito oportuna, com a reabertura de um programa de regime automotivo no Nordeste que contribui significativamente para a consolidação do investimento na planta de Camaçari”, avalia Baldy.
Ele também vê positivamente o lançamento do programa Mover, que substitui o Rota 2030, que reduz o imposto sobre tecnologias menos poluentes na mobilidade, considerando numa primeira fase, as emissões de carbono do poço à roda, e a partir de 2027, do berço ao túmulo – conceitos que ganham espaço no dialeto da política industrial brasileira.
“A BYD enxerga com muito bons olhos todas as políticas públicas que foram coordenadas pelo governo federal sobre o estímulo aos investimentos locais”, diz o executivo.
O programa foi um caminho intermediário, encontrado pelo governo, para proteger o motor a combustão, concedendo vantagens para o motor flex e híbrido na concorrência com os elétricos, especialmente os importados da China, ao colocar o ciclo de vida (ACV) na conta.
Isso porque a pegada de carbono das fábricas de baterias elétricas na China, que utilizam carvão como fonte energética, pode ser maior que a do motor convencional produzido no Brasil.
“Não temos receio dessa política pública e a nossa visão é que a gente consiga verticalizar a nossa produção no Brasil”, pontua Baldy.
Ele ainda ressalta que, diferente da estratégia da companhia em outras partes do mundo, no Brasil, a BYD optou por incluir o etanol em suas rotas.
“Nós faremos parte desse mundo [do etanol], a partir da nossa planta industrial pronta no Brasil e produziremos os nossos carros híbridos flex-fuel. Nos somaremos ao setor de etanol para a produção local dessa nova tecnologia”, diz.
“Somaremos esforços para que a gente possa ter a política pública que representa a melhor condição de produção, do berço ao túmulo”.
Lítio e bateria
Outra medida que influenciou a estratégia da companhia, foi o retorno gradual da taxação veículos eletrificados importados, anunciado em novembro, pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).
“Como temos esse impasse, sobre a questão do imposto de importação de um regime de transição para que as indústrias possam investir no Brasil, a BYD tem feito todo o esforço para que consiga produzir localmente o mais rápido possível”.
“(...) Baterias de carros, baterias de ônibus, baterias de caminhões, fabricação de carros, queremos ter o maior volume possível de partes, peças e componentes fabricados localmente”, completou.
Mineração na Bahia e Minas Gerais
A companhia também vem estudando investimentos na exploração do lítio e outros minerais no país.
“Há a pesquisa para o desenvolvimento e o investimento no em minerais, sobretudo o lítio (...) Olhamos investimentos no estado de Minas Gerais e no estado da Bahia, na área de mineração”.
A Bahia, aliás, é destino de investimentos em infraestrutura que visam ao escoamento de minério pelo Porto Sul, em Ilhéus, que está ancorado em investimentos da Bamin, mineradora da Eurasian Resources Group, do Cazaquistão, na produção de minério de ferro no estado.
E no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, a Chengxin Lithium Group e a Yahua Industrial Group anunciaram US$ 50 milhões, entre investimentos e contratos, com Atlas Lithium, que desenvolve um projeto no estado. São fornecedores de hidróxido de lítio para Tesla e BYD.
“Cada vez mais agressiva”
Baldy destaca a estratégia agressiva da companhia para dominar o mercado brasileiro de eletrificados.
Em 2023, o modelo BYD Dolphin Plus já foi o elétrico mais vendido do Brasil, com 6.812 unidades. Só em novembro, o Dolphin vendeu mais do que a soma de todos os outros modelos elétricos no país.
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“[Os anos de] 2024, 2025, 2026 serão anos ainda mais revolucionários com os lançamentos de carros híbridos e elétricos que a BYD fará no Brasil (...) Não tenha dúvida de que essa política, cada vez mais, será agressiva e será, cada vez mais, ofertado ao consumidor brasileiro modelos de carros elétricos acessíveis com performance cada vez melhor”.
Estão previstos investimentos para ampliação da fábrica de baterias em Manaus, em operação desde 2017, para atender à fabricação de ônibus elétricos na unidade fabril da companhia instalada em Campinas (SP).
O executivo destaca a implementação da frota de ônibus elétricos pela Prefeitura de São Paulo, que impulsionou os investimentos na unidade da empresa para produção de chassis de ônibus elétricos em Campinas.
“Deveremos entregar no curto prazo quase 500 ônibus elétricos da Prefeitura de São Paulo, e outras localidades pelo Brasil já têm feito essa avaliação e essa substituição de frota”.
Além das unidades fabris, a companhia aposta pesado na ratificação dos pontos de venda pelo país.
“Até o final deste mês serão cem concessionários. Isso representa um investimento em mais de 20 estados de meio bilhão de reais. Ao longo de 2024, serão mais cem concessionárias, o que representará mais meio bilhão de reais em investimentos em 27 estados no Brasil”.