Estudo da EPE mostra que classes altas usam seis vezes mais energia elétrica que pobres. Diferença cresceu a partir de 2015
A classe mais rica consome seis vezes mais energia per capita do que a classe mais pobre no Brasil, aponta estudo da Empresa de Pesquisa Energética (EPE). E essa desigualdade cresceu ao longo da segunda metade da década de 2010. Os números mais atualizados são de 2019 – portanto, anteriores à pandemia de covid-19 e à crise hídrica de 2021.
O consumo elétrico residencial varia de 371 KWh – equivalente ao consumo per capita do Marrocos –, na classe de menor renda (até 1 salário mínimo), a 2.221 KWh – o consumo per capita do Japão – para a classe de maior rendimento (mais de 20 salários mínimos).
— Em 2019, 58% da demanda residencial estava concentrada nas quatro faixas de menor renda (até 5 salários mínimos). Esse grupo representava 78% dos domicílios no país.
A EPE também calculou o Índice de Gini Elétrico do setor residencial, para medir o grau de desigualdade. O índice varia de 0 (ausência de desigualdade) a 1 (máxima concentração).
— O indicador vinha diminuindo de 2005 a 2014, mas reverteu a trajetória e passou a aumentar a partir de 2015. Em 2019, ficou em 0,28.
— Na avaliação da EPE, essa inversão pode ser explicada pela conjuntura econômica, pelo aumento do preço da eletricidade, decorrente da escassez hídrica de 2014, e pela introdução do sistema de bandeiras tarifárias.
A desigualdade também se reflete no padrão de consumo das famílias. A conservação de alimentos (geladeira) é a principal fonte de consumo das famílias de menor renda, enquanto a climatização (ar condicionado) se destaca entre as classes mais abastadas.
— Esse contraste, diz a EPE, mostra uma demanda potencial a ser explorada nos próximos anos, com políticas públicas adequadas, em especial, programas de subsídios focados e de eficiência energética.
— Em 2023, o orçamento da Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) para tarifas sociais de baixa renda foi ampliado em 3,2%, para R$ 5,6 bilhões. Além disso, R$ 1,624 bilhão foram reservados para universalização – aumento de 42,5% ante 2022.