Ensino: Maior queda na rede privada é relacionada à crise econômica e ao Fies
Considerado prioritário para retomada econômica e um dos mais procurados há cerca de dez anos, o curso de engenharia, em especial da rede privada, vive atualmente um ostracismo. O número de alunos matriculados nessa graduação, na modalidade presencial, em faculdades particulares caiu 44,5% entre 2014 e 2020. Essa queda é muito superior à redução de 19,3% registrada no mercado de cursos presenciais, nesse mesmo período. Em 2020, havia cerca de 400 mil alunos matriculados em cursos presenciais na rede privada, patamar semelhante ao registrado em 2011.
Segundo Rodrigo Capelato, diretor-executivo do Semesp, sindicato do setor que fez o levantamento, essa baixa procura pela graduação de engenharia é devido a uma combinação de fatores. “O ambiente macroeconômico levou a queda no poder aquisitivo para o aluno pagarum curso de engenharia que tem uma mensalidade maior, houve a paralisação das obras do PAC [Programa de Aceleração do Crescimento] que afetou as construtoras e, consequentemente, houve uma redução na oferta de empregos de engenharia civil”, disse Capelato.
O diretor-executivo do Semesp destaca que a drástica redução do Fies — programa de financiamento estudantil público —, a partir de 2015, tem um peso relevante nessa baixa procura pela graduação de engenharia, cuja mensalidade chega a ser o dobro da média dos cursos de ensino superior. Até 2015, o governo federal priorizava a concessão de Fies para estudantes dos ensinos de engenharia, uma vez que havia falta de mão de obra especializada nessa área, sobretudo, em regiões mais afastadas dos grandes centros.
A procura por cursos de ensino a distância de engenharia, por sua vez, subiu de forma vertiginosa. Entre 2014 e 2020, o número de matrículas nessa modalidade saltou de 15,8 mil para 184,5 mil alunos, entre instituições de ensino particulares — um crescimento bem acima, inclusive, do mercado de cursos on-line, cuja base saltou 145% no período. Contudo, ainda não houve uma compensação total. O segmento presencial perdeu 272 mil alunos e o a distância teve um acréscimo de 168,7 mil estudantes no período.
Além disso, a mensalidade do on-line chega a ser 50% inferior. “Um ponto relevante é que nos cursos presenciais de engenharia, cerca de 60% dos alunos têm até 24 anos. No EAD, a idade varia de 30 e 59 anos. Em geral, são pessoas que já estão no mercado de trabalho e buscam um diploma para melhorar renda”, disse Capelato. Há uma forte relação entre o curso de engenharia e o momento econômico. No período de 2015 a 2020, o número de alunos nas engenharias civil e de produção, que juntas representam a metade das matrículas nessa graduação, caiu 34,7% e 24,2%, respectivamente.
Já em engenharias de computação e biomédica — áreas que estão em alta no momento, houve um crescimento de 73% e 48,3%. Os cursos também estão concentrados nas regiões de maior empregabilidade. Quase 51% dos alunos de engenharia estudam no Sudeste, em especial, nos Estados de São Paulo (26,0%) e Minas Gerais (13,5%). Em São Paulo, 75% dos estudantes estão matriculados em instituições de ensino superior privadas.
Nas universidades públicas, por outro lado, esse movimento não ocorre. Houve uma queda de 4,36% em 2020, mas nesse mesmo período o volume total de matriculados (inclui todas as graduações) registrou uma redução de 6,39%. Considerando o acumulado de 2014 a 2020, o número de alunos de engenharia na rede pública subiu 7,29%; enquanto a base total caiu 1,26%, segundo levantamento do Semesp.
Com informações de Beth Koike | Valor Econômico