O problema dos interesses da classe de engenharia no Brasil é muito antigo e há uma tendência muito curiosa que também se perde no tempo, de transferir a culpa dos erros do Governo para os técnicos, ficando o Governo apenas com o saldo positivo dos acertos dos técnicos.
É verdade que, por vezes, os técnicos erram como também é verdade que erram os políticos, erram os economistas, erram os médicos e que podem errar, enfim, todos aqueles que exercem atividade produtiva. Mas o técnico, neste particular, intérprete da ação do homem sobre a natureza, para adaptá-la às necessidades da civilização, recebe as críticas pelos seus erros, enquanto os seus acertos servem para o elogio aos políticos.
É hábito do Governo deixar que em determinadas soluções inadequadas, dadas a problemas nacionais ou regionais, quando verificado o erro, seja este atribuído aos técnicos que deveriam executá-las. Ao mesmo tempo, como rotina, com raras e honrosas exceções, não dá aos técnicos suficiente liberdade de ação para que possam orientar os trabalhos de que foram incumbidos, de forma a poderem assumir efetiva responsabilidade pelos resultados, certos ou errados.
Jaime Rotstein. Em defesa da engenharia brasileira (Locais do Kindle 161-169). Digitaliza Brasil.