Temos profissionais para produzirmos em solo nacional TVs, celulares, carros, smartphones e tablets. Está faltando o quê?
Países que quiseram romper com a pobreza e o atraso investiram em educação e inovação. São exemplos disso a Noruega, Japão, Coréia do Sul dentre vários outros. Foi visando isso que surgiu o programa CI-Brasil. Esse programa teve como intuito gerir e qualificar brasileiros para tornar viável a criação de projetos em microeletrônica no país. Assim, surgiram as DHs (Design House) e os Centros de Treinamentos. A gestão desses centros coube a NSCAD com sede em Porto Alegre (RS) e ao Instituto Renato Archer, o CTI (Campinas-SP).
As DHs se espalharam pelo país, criando projetos para diversas áreas, incluindo TV Digital. A ideia era reduzir o saldo negativo na balança comercial do país, que historicamente é negativo no que tange a tecnologia. Estamos falando de bilhões de reais na balança, sobretudo em importações o que torna mais caro o produto e eleva a inflação.
Se no ponto máximo as DHs somavam pelo menos vinte e quatro instituições no país (2012), em 2016 foi o fundo do poço. Sem recursos, os centros de treinamentos estão sem turmas, DHs foram fechadas. O programa CI-Brasil acabou!
Na outra ponta da cadeia produtiva surgiu a CEITEC, com a finalidade de ser a fábrica dos circuitos integrados no país, representando um movimento tecnológico incrível. Mas desde seu início tem amargado prejuízos.
Qual o motivo por trás do fracasso desse projeto, se no mundo a área continua aquecida e rentável? Afinal, as Design Houses foram criadas e incentivadas para captar esses profissionais, a CEITEC foi criada e mesmo assim nosso mercado é dominado por asiáticos.
O motivo pelo qual hoje temos mais profissionais qualificados e sem perspectivas de atuação na área de especialização é simples: ficamos reféns da burocracia. Sem planos de carreiras, os salários se resumiram a bolsas pagas pelo CNPq.
Erramos ao deixar na mão do CNPq o desenvolvimento de uma cadeia tão complexa. O ministério e suas excessivas normas, regras e editais com prazos e questões fora do contexto global acabou sufocando e dizimando a área que poderia transformar a economia do país.
Um claro exemplo disso são os níveis implementados em forma de bolsas, em que a quantidade de anos na área significava um acréscimo, mas de quanto estamos falando? Estamos falando de um salário de R$3000,00 ou R$3500,00 para profissionais com cinco ou seis anos de experiência.
Fora do Brasil, um mesmo profissional ganha $70 mil (dólares anuais) o que convertendo em reais representa dez vezes o que recebem aqui os bolsistas no primeiro ano do programa.
Num primeiro momento essa bolsa representa uma oportunidade para se qualificar, visto que todo o conteúdo e prática se faz com ferramentas da Cadence, empresa americana líder na área. Depois da qualificação, que dura um ano, vem o mercado de trabalho e a inevitável comparação com outras áreas.
A realidade meus caros é que um recém formado ganha mais que R$2000,00. Um graduado em engenharia tem sua carteira assinada baseada num piso nacional, a CLT garante sua aposentadoria, as empresas oferecem ainda planos de saúde, vale transporte e vale alimentação, o que eleva a renda líquida do profissional.
Mas e os membros discentes do programa, o que ganharam? Ganharam bolsas e nada mais. Sem perspectiva de crescimento a fuga de profissionais cresceu. Crescendo a ponto de não ter mais interesse ou Design House.
A produção de uma DH é o Circuito Integrado, um CI em silício (produto para celulares, tablets, notebooks, etc), diferente da produção de um grupo de pesquisa em universidade, que até podem desenvolver algo assim, mas com a principalmente finalidade de gerar artigos ou trabalhos (dissertações e teses).
As DHs deveriam gerar produtos com alto valor agregado, tirando o Brasil do vergonhoso atraso tecnológico. Com o fim da SMDH, seus projetos entrarão para a história como sendo fruto de um grande trabalho feito por uma equipe de profissionais que agora se veem procurando uma oportunidade, para qualquer área, visto que a sua não existe mais.
O Brasil perde com essa migração profissional, perde em competitividade. A Coréia do Sul é o exemplo de como investir em tecnologia transforma a economia e qualidade de vida de uma nação, nós que já fomos várias vezes tido com o país do FUTURO, amargaremos mais uma vez o atraso.
Precisamos repensar em como gerir a pesquisa e inovação no país. Erramos, perdemos e a consequência será a falta de competitividade, uma balança comercial de exportação de minérios e grãos e importação de tecnologia.
Falam que o país precisa de um estado menor e mais eficiente. Que precisamos de uma indústria inovadora e competitiva. Fizeram uma PEC para limitar gastos, mas não fizeram o mais simples: deixar quem entende liderar a inovação.
Temos profissionais para produzirmos em solo nacional e com tecnologia nacional TVs, celulares, carros, smartphones, tablets. O que nos falta é a liberdade de produção. Deixar que um programa como esse fique a cargo do MCTI, CNPq e similares. Acham que produção é geração e publicação de artigos.
Produção é geração de produtos, patentes. Produtos para problemas nacionais, mercado temos, profissionais também, mas infelizmente temos um governo que desconhece o significação da tecnologia, inovação e ciência de verdade.
Agora ficaremos com os papéis, os artigos, as propostas de projetos. A China, a Índia, a Coréia do Sul e outros, esses ficarão com bilhões do nosso bolso. Com todo o nosso mercado. Não reclamemos então pelos altos preços pagos em equipamentos vindos desses países, nem da demora em chegarem aqui para venda.
O melhor seria voltar a idade média e vivermos sem luz ou internet, pois se nos mantivermos conectados seremos vítimas fáceis da comparação: o que temos aqui e o quem tem eles por lá? Quanto pagamos aqui e quanto eles pagam por lá? O que o governo deles elegem como prioridade e em que o nosso investe?
Fonte: DINO - Divulgador de Notícias