Empresa escolhida pelo governo será remunerada com a venda de energia produzida com água excedente do Pinheiros
'É absolutamente viável', diz secretário estadual de Recursos Hídricos sobre novo projeto de despoluição
DE SÃO PAULO
A gestão Geraldo Alckmin (PSDB) lançará edital para a construção de uma estação de tratamento de água na confluência dos rios Tietê e Pinheiros, em São Paulo.
Segundo a Folha apurou, uma PPP (parceria público-privada) é o caminho mais provável para a realização do projeto de limpeza do rio.
"A ideia é limparmos o [rio] Pinheiros, e, uma vez limpo, ele pode ser transposto para dentro da [represa] Billings e aí, de quebra, gerar energia elétrica", disse à Folha o secretário paulista de Recursos Hídricos, Benedito Braga.
"Essa geração de energia, que hoje não existe, vai pagar o custo do tratamento dessa água que vai deixar o Pinheiros limpo", afirmou.
Hoje, a água do Pinheiros só pode ser revertida para a Billings para controlar possíveis cheias do rio.
A medida é mais uma tentativa da gestão Alckmin de contornar a crise hídrica. Além da geração de energia, essa água poderá ser usada para abastecer o sistema Guarapiranga, hoje o principal da Grande SP em número de pessoas atendidas (5,8 milhões).
Questionado sobre a viabilidade do plano, Braga disse ser "absolutamente viável". O governo pretende pagar o tratamento dessa água com a venda da energia elétrica gerada pela usina de Henry Borden, reembolsando a empresa que vencer a concorrência.
Não há, porém, previsão de custo da obra nem de quando a construção teria início.
Em audiência pública no Senado nesta quarta (8), o governador Geraldo Alckmin defendeu o projeto.
"Estamos estudando uma engenharia financeira, uma PPP: nós tratamos o esgoto, bombeamos para o Pinheiros, bombeamos para a represa Billings. Uma parte vai para Guarapiranga, para abastecimento humano, e a outra parte cai lá embaixo, na serra, em Cubatão, e gera energia elétrica", afirmou. "Quem paga tudo isso? A geração de energia elétrica", completou.
Tentativas anteriores de despoluir o rio Pinheiros fracassaram. Projeto lançado em 2001 foi abandonado duas vezes (2003 e 2011), após consumir R$ 160 milhões. Testes apontaram que o uso da técnica da flotação não seria suficiente para limpar o rio.
TECNOLOGIA
Braga afirma que "nenhum modelo negocial está descartado até o momento". Segundo ele, a concorrência irá permitir que as empresas proponham a melhor tecnologia para tratar a água do rio, hoje avaliada como classe 4, índice máximo de contaminação. O governo estadual quer que essa avaliação melhore para atingir a classe 2.
O secretário disse ainda que não descarta nenhuma tecnologia, mesmo a de flotação. Outra possível tecnologia citada por Braga é o uso de membranas ultrafiltrantes, já usada hoje em parte da represa Guarapiranga.
BILLINGS
O uso da Billings como alternativa de abastecimento em meio à atual crise hídrica também não é novidade. A represa, chamada por Alckmin de grande "caixa-d'água" da região metropolitana de São Paulo, vinha sendo pensada no início deste ano como alternativa em caso de colapso completo do sistema Cantareira, em situação crítica.
A ideia era tratar a água da parte poluída da Billings e transpor essa água para o braço limpo da represa que abastece o sistema Rio Grande. Estudos apontaram, porém, que o custo seria muito alto.
O governo decidiu então construir uma adutora que ligará o Rio Grande ao sistema Alto Tietê, com capacidade para transportar 4.000 litros/segundo de água. Prevista para junho, a obra deverá ser entregue em setembro.
Colaborou FLÁVIA FOREQUE, de Brasília
Fonte: Folha de S. Paulo