O forte aumento nas tarifas de energia e os temores de interrupções no abastecimento têm levado a uma expansão na procura por gás, tanto o natural quanto o liquefeito de petróleo, para geração elétrica. E as distribuidoras contam com a alternativa para compensar a queda no volume de vendas, em decorrência do ritmo fraco da economia.
No mês passado, a montadora Mercedes-Benz anunciou que sua fábrica em Iracemápolis, no interior de São Paulo, terá todo o fornecimento de eletricidade garantido a partir de geradores movidos a gás natural. O projeto, que entra em operação no primeiro trimestre de 2016, é o primeiro a já considerar desde o início o abastecimento de gás para a autossuficiência energética.
De acordo com a montadora, o custo da energia foi um fator importante para a escolha. A companhia não abre números, mas, segundo informou o diretor comercial da Comgás, Marcus Bonini, considerando somente a geração de energia, a economia com esse tipo de projeto é da ordem de 10% em relação ao abastecimento direto da rede elétrica.
As vantagens são maiores se consideradas as sinergias trazidas pelo modelo de cogeração. A Mercedes vai utilizar o vapor gerado pela produção de energia para abastecer estufas de secagem para a pintura dos carros - o que, segundo a companhia contribuiu significativamente para a escolha da alternativa do gás natural.
O caso da montadora não é isolado. Na Comgás, desde o ano passado, a procura para implantação de projetos para geração de energia praticamente dobrou. Segundo Bonini, o aumento de 50% na tarifas médias das distribuidoras na área de concessão da Comgás, em São Paulo, aumentou a viabilidade dos investimentos necessários para a geração própria.
Mas mesmo antes disso, as incertezas em relação ao abastecimento tinham despertado a atenção das indústrias. "Tivemos alguns exemplos de falta de energia, que fizeram a demanda por novos projetos disparar. O reajuste tem um impacto, dependendo do cliente. Mas energia que não existe não tem preço", ressalta.
A instabilidade no fornecimento de energia foi uma das principais razões pelas quais a catarinense Premium Têxtil decidiu migrar para a geração elétrica a partir do gás liquefeito de petróleo (GLP), fornecido pela Copagaz. Sem as quedas de energia, a produtividade da companhia aumentou 34% desde o fim de 2014, quando foi feita a migração para os geradores - de 15 metros de tecido por minuto, passou a produzir 23.
A busca por novos clientes é uma das principais estratégias das distribuidoras de gás para driblar a queda no consumo das indústrias. Só no primeiro trimestre, a desaceleração da atividade fez com que o volume consumido pelo segmento industrial na Comgás caísse 2,3% em relação ao mesmo período de 2014, para 892,3 milhões de metros cúbicos. A meta agora é conectar entre 80 e 100 indústrias até o fim do ano.
Nesse sentido, os projetos para geração de energia se mostram como um filão atrativo, pelo alto volume demandado. Somente com a fábrica da Mercedes, serão 380 mil metros cúbicos de gás ao mês, que garantirão o funcionamento dos geradores, e outros 90 mil metros cúbicos mensais para atendimento exclusivo às estufas de pintura e secagem. No mesmo caminho, a conversão de uma única indústria cerâmica, localizada em Rio Claro, para turbinas à gás trouxe uma demanda adicional de 1,8 milhão de metros cúbicos mensais, aponta Bonini.
A Comgás tem notado ainda o aumento na procura para conversão de geradores a diesel para um modelo bicombustível, que aceita também o gás natural. Somente neste ano, estão previstas 40 migrações para esse sistema, que permite o funcionamento dos geradores, geralmente utilizados no horário de pico - quando a energia é mais cara -, por um período maior, de até 24 horas.
Na Copagaz, que distribui GLP, vendido em botijões, o mercado para geração de energia ganhou tanta relevância que a empresa financia parte do investimento inicial para a implantação dos projetos. "Não fosse a queda no consumo por conta da crise, estaríamos crescendo a dois dígitos, mas a demanda por geração de energia garante pelo menos alguma expansão do volume", ressalta Vicente Longuetti, gerente nacional de vendas da distribuidora. Segundo ele, mesmo com o reajuste de 18% do GLP no fim do ano, a economia pode chegar a até 40% em relação ao abastecimento convencional via o fio das distribuidoras.
Fonte: Valor Econômico