Após quase dois anos de atrasos, Alemanha, França e vizinhos no centro-oeste da Europa iniciaram ontem à interligação de seus mercados de eletricidade num sistema em que os preços ditarão para onde a energia fluirá entre os países.
A interligação de mercados com base nos fluxos combina oferta e demanda através das fronteiras, enviando eletricidade para onde os preços são mais altos. Espera-se que a média de tarifas com um dia de antecedência suba na Alemanha e diminua na Bélgica e na Holanda, segundo dados da Energy Brainpool, consultoria de Berlim.
Oito anos atrás, governos, reguladores, bolsas e operadores de redes elétricas de Alemanha, França, Bélgica e Holanda concordaram em melhorar seus fluxos interfronteiriços. O projeto, que deveria ter começado em 2013, administra melhor a forma como as redes elétricas são utilizadas. Isso significa que, num dia com muito vento no norte da Alemanha, a eletricidade gerada por uma turbina eólica pode chegar a um hospital na França.
"A interligação de mercados com base nos fluxos pode elevar as exportações da Alemanha para os países vizinhos e será um elemento de apoio aos preços atacadistas da energia na Alemanha", disse Alfred Hoffmann, vice-presidente de gestão de carteira trading de energia da Vattenfall em Hamburgo.
Na interligação com base nos fluxos, todos os caminhos interfronteiriços entre as redes elétricas são levados em conta a fim de maximizar a capacidade. No esquema tradicional, os fluxos se baseiam na capacidade disponível de interconexão em cada fronteira, o que pode dificultar a convergência de preços entre as redes nacionais.
"Depois do começo bem-sucedido e da preparação intensa, estamos comemorando aqui", disse ontem Andreas Preuss, porta-voz da operadora alemã de rede elétrica Amprion. Os preços por hora para hoje já foram calculados pelo novo sistema, disse Preuss.
A Alemanha tem os preços de eletricidade mais baixos da região, com uma tarifa média com um dia de antecedência de € 32,11 por megawatt-hora durante os últimos 12 meses. A cifra se compara com € 36 na França, € 41,35 na Holanda e € 43,46 na Bélgica.
Os preços podem virar negativos quando a oferta de energia supera a demanda, quando há muito vento ou sol, por exemplo. A Alemanha, maior produtor de energia renovável da Europa, teve 109 horas de preço negativo neste ano, o dobro do mesmo período de 2014, segundo a Epex Spot.
Em média, os preços teriam sido 8,7% mais baixos na Bélgica e 5,8% na Holanda com o sistema de interligação de mercados no ano passado, diz Energy Brainpool.
No entanto, flutuações na geração de energia renovável na Alemanha ainda podem ter um efeito maior nos preços do que a interligação dos mercados, segundo Omar Ramdani, diretor de análise da RheinEnergie Trading, de Colônia. "Em média, os preços aumentarão de € 1 a € 2 se não observarmos efeitos contrários da produção de energia eólica e solar."
Embora a interligação possa melhorar os fluxos interfronteiriços, a Comissão Europeia estima que a Europa ainda precisará gastar € 200 bilhões em infraestrutura de energia até 2020, incluindo novas conexões elétricas entre países.
"A interligação do mercado terá certo impacto, mas é preciso mais investimento na capacidade interfronteiriça e de interconexão para ter uma grande diferença", disse Elchin Mammadov, analista de empresas de energia europeias da Bloomberg Intelligence.
Fonte: Valor