Projeto de 1.854 km de extensão, chamado ‘linhão pré-Belo Monte’, estimado em R$ 1,3 bi, foi vencido no fim de 2012 pela espanhola Abengoa e a entrega estava prevista para fevereiro de 2016; a empresa não quis se pronunciar sobre motivos do atraso
A Hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu, vai ter de buscar rotas alternativas para escoar a sua energia no início do ano que vem, por conta de atrasos em obras de linhas de transmissão que deveriam apoiar a usina. O descolamento total do cronograma de rede que levaria a geração da hidrelétrica erguida no Pará para Estados da Região Nordeste já foi contabilizado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Serão pelo menos oito meses de atraso.O chamado "linhão pré-Belo Monte", projeto de 1.854 km de extensão, estimado em R$ 1,3 bilhão, foi vencido no fim de 2012 pela empresa espanhola Abengoa.
A empresa assumiu o compromisso de entregar a rede em operação em fevereiro de 2016. A relevância desse calendário está diretamente relacionada ao cronograma de Belo Monte. Em março do ano que vem, começam a ser acionadas as primeiras turbinas da casa de força principal da hidrelétrica, máquinas de grande porte com 611,1 megawatts (MW) de potência cada uma. O corre que a linha de transmissão atrasou completamente. As fiscalizações feitas pela Aneel indicam que a malha só estará à disposição em outubro de 2016.
A Abengoa foi questionada sobre as causas do atraso e eventuais medidas tomadas para tentar acelerar as obras, mas informou que não iria se manifestar. A Norte Energia, concessionária que é dona de Belo Monte, também foi questionada sobre o impacto do atraso da linha em suas operações, bem como sobre alternativas para garantir a distribuição da energia enquanto a rede não fica pronta. Por meio de nota, informou apenas que "o assunto deve ser tratado diretamente com a Abengoa".
Cronograma. Em construção no Rio Xingu, na região de Altamira, Belo Monte possui duas estruturas para geração de energia. A casa de força complementar, que será formada por seis turbinas de 38,85MW cada, está atrasada. O acionamento de sua primeira máquina deveria ter ocorrido em fevereiro deste ano, prazo que a empresa jogou para novembro. Mas em sua casa de força principal, na qual serão instaladas 18 máquinas de 611,1 MW, o cronograma segue inalterado pela Norte Energia, com previsão de começar a operar em março de 2016.
Não restará outra saída, portanto, a não ser procurar garantir o abastecimento por pequenas redes locais de transmissão. A Norte Energia já trabalha com a idéia de começar a distribuir a energia de sua casa de força complementar partindo de malhas regionais. O que não estava nos planos era fazer isso com as turbinas de grande porte.
Dada a atual situação, o caminho mais indicado para garantir a entrega da usina deverá ser uma linha da Eletronorte conhecida como Tramoeste, uma rede de menor porte que conecta o interior do Pará, entre Tucuruí e Altamira, com a tensão de apenas 230 kV, quando a malha em construção pela Abengoa é 500 kV. Essa condição pode levar a restrições graves de transmissão, dado o volume de energia que será injetado no sistema pela nova hidrelétrica. Em fevereiro deste ano, uma falha ocorrida no Tramoeste deixou 12 cidades do interior do Pará sem energia.
Conta mais cara. A linha de transmissão da Abengoa obteve autorização do Ibama para iniciar as obras em março deste ano. O atraso no projeto poderá gerar um prejuízo milionário ao consumidor. Isso porque, se a Norte Energia estiver com máquinas à disposição, mas não tiver meios de entregar a energia, será remunerada normalmente pelas distribuidoras que compraram a energia. E essas ainda terão de comprar essa energia frustrada no mercado à vista.
Esses custos, por consequência, seriam automaticamente repassados para a conta de luz da população.
Fonte: O Estado de São Paulo