Apesar de ainda não ter capturado o forte reajuste extraordinário médio de 23% nas tarifas, realizado em março, os dados do primeiro trimestre das distribuidoras de capital aberto mostram que a redução do consumo de energia neste ano veio para ficar. A desaceleração da economia e as temperaturas mais amenas já provocaram queda nas vendas de boa parte das empresas do segmento, especialmente nas regiões nas quais a atividade industrial tem peso maior.
É o caso da AES Eletropaulo. A companhia, que atende a Grande São Paulo, viu seu consumo cair 3,4% no primeiro trimestre em relação ao mesmo período de 2014. E a expectativa é que, no ano como um todo, a demanda recue entre 1,5% e 2% na área de concessão. Isso sem levar em conta o impacto dos reajustes tarifários - além do aumento médio de 32% de março e das bandeiras tarifárias, é esperada uma nova alta, de 15% em julho, na revisão anual da companhia.
"Ainda não temos dimensionado o impacto das revisões de tarifas", apontou a vice-presidente de distribuição da Eletropaulo, Teresa Vernaglia, em teleconferência com analistas sobre os resultados do primeiro trimestre. "Na história recente, não temos um aumento dessa magnitude, ainda mais num cenário de desaceleração [da economia] que a gente já sentia", acrescentou o presidente do grupo AES Brasil, Britaldo Soares.
Os reajustes extraordinários ocorreram no começo de março, mas chegaram à conta de luz do consumidor apenas em abril. Dessa forma, a sensibilidade ao preço, na demanda por energia, que é uma grande incógnita mesmo para os empresários do setor, só deverá ser sentida nos resultados das companhias a partir do segundo trimestre.
No começo do ano, o ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, sinalizou que o aumento das tarifas e as campanhas de racionalização devem reduzir o consumo de energia no país em 3% a 5% em 2015 - e essa queda deve ajudar a diminuir o consumo de água dos reservatórios do país e evitar um racionamento no próximo ano. No primeiro trimestre, de acordo com dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), o recuo no consumo foi de 0,6% em relação ao mesmo período de 2014.
Na CPFL Energia, a previsão é que o consumo no Sistema Interligado Nacional (SIN) caia 0,3% neste ano, praticamente em linha com a recente revisão do Operador Nacional do Sistema (ONS), que prevê leve alta de 0,1%. A companhia não revela projeções para sua área de concessão, mas, no primeiro trimestre, registrou queda no volume comercializado, de 2,5%.
"Temos grande concentração de consumidores industriais e isso se reflete no nosso perfil de consumo", apontou o presidente da CPFL Energia, Wilson Ferreira Júnior, em teleconferência. O consumo industrial, que representa 30% do volume total vendido pela companhia, recuou 5,1% no primeiro trimestre em relação a 12 meses antes, enquanto o residencial e o comercial aumentaram 0,2% e 0,5%, respectivamente.
Na Celesc, de Santa Catarina, o volume de distribuição de energia caiu 1,6% no primeiro trimestre sobre o mesmo período de 2014. Considerando apenas o mercado cativo, sem os consumidores livres, o recuo foi de 2%, ocorrido por conta das "temperaturas médias mais amenas e desaceleração econômica", segundo informações do relatório que acompanha as demonstrações financeiras da empresa.
Já a Light não prevê uma queda "tão bruta" no consumo de energia em 2015 em relação ano anterior, segundo o presidente da companhia, Paulo Pinto. Entre janeiro e março, o consumo da distribuidora fluminense subiu 0,6%, ainda que tenha registrado queda de 5,1% entre os consumidores industriais.
A principal preocupação da companhia, no entanto, diz respeito ao impacto do realismo tarifário sobre perdas e inadimplência - desde novembro, as tarifas cobradas pela empresa subiram 60%. Com altos níveis de furtos, a Light tem um compromisso com os reguladores de reduzir os índices até agosto.
"Deixamos de faturar cerca de R$ 2 bilhões ao ano e, em termos de volume de perdas, é o equivalente ao consumo do Espírito Santo, e isso não é pouca coisa, nenhuma empresa do país tem a particularidade que a Light tem", afirmou Pinto, em teleconferência.
Fonte: Valor