O Brasil está se preparando para a adoção do sistema smart grid, isto é, a aplicação da tecnologia da informação e comunicação para tornar mais eficiente a infraestrutura de eletricidade. De acordo com Cyro Boccuzzi, vice-presidente da Enersul (Empresa de Energia Elétrica de Mato Grosso do Sul), estão na pauta discussões sobre leis e regulamentações que definirão os novos parâmetros na medição de energia e modalidades tarifárias.
Mesmo em um cenário de formatação dos marcos regulatórios, diversas companhias já anunciaram investimentos na área e até vem colocando projetos em prática, comenta o especialista.
“Várias empresas estão estudando o smart grid, sendo que algumas estão desenvolvendo projetos. Os investimentos já estão sendo locados nos planos normais de expansão das companhias, seja em automação ou em tecnologias de medição”, disse Boccuzzi, que também é presidente do Fórum Latino Americano de Smart Grid e participou do comitê estratégico de Energia da Amcham-São Paulo nesta quarta-feira (23/11).
Os planos dizem respeito também às geradoras, transmissoras e distribuidoras, além de organizações dos segmentos de tecnologia da informação e telecomunicações, que têm desenvolvido soluções inovadoras. “Companhias de TI e Telecom estão acompanhando essa transformação. Trata-se de um mercado corporativo interessante, que demanda modernização. E há ainda a questão da integração de infraestruturas (energética e telecomunicações”, ressaltou.
Um dos exemplos citados por Boccuzzi, enfatizando as novas oportunidades de negócios, é a compra da AES Atimus Group , empresa controladora da Eletropaulo Telecomunicações, e da AES Communications Rio de Janeiro pela operadora de telefonia móvel TI. O acordo dessa operação, no valor de R$ 1,6 bilhão, foi anunciado em julho deste ano. No comunicado oficial da compra, a TIM explicou que um dos objetivos da aquisição das redes de fibra óptica é reforçar sua oferta de banda larga móvel.
Siemens
O Brasil é considerado um dos principais países onde a Siemens tem colocado foco nos negócios relacionados a smart grid. “O potencial do Brasil é grande tanto em função de ampliação do PIB (Produto Interno Bruto), aumento do consumo de energia, desenvolvimento das cidades e necessidade de maior integração de fontes renováveis no sistema”, afirmou Guilherme Mendonça, diretor da Divisão de Negócios Smart Grid da companhia.
A Siemens é líder mundial no mundo e no Brasil na área de automação e proteção elétrica. Segundo ele, as áreas de transmissão e geração são as que mais têm avançado nesse movimento de modernização. A empresa está envolvida em toda a tecnologia aplicada na gestão das usinas hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau, que fazem parte do complexo do Rio Madeira.
Agora, o maior desafio no País está na distribuição, argumentou o especialista. Porém, o segmento já tem esboçado evolução. “O smart grid tem várias faces, sendo que uma das principais está relacionada a automação, comunicação e controle, onde temos atuado fortemente, inclusive na distribuição, em clientes como a Light, Eletropaulo, Cemig (Companhia Energética de Minas Gerais) e CPFL (Companhia Paulista de Força e Luz). Porém, o grande desafio está agora na implementação da medição eletrônica de energia”, completou.
Formatação das regras do jogo
Na última terça-feira (22/11), a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), aprovou a metodologia que define a cobrança diferenciada de tarifas de energia elétrica de acordo com os horários de consumo.
De acordo com Cyro Boccuzzi, as grandes indústrias no País já pagam custos de energia variáveis conforme os horários do dia. “Os custos de energia não são planos, não são únicos. Nos horários de pico, são maiores. Mas isso não foi aplicado ao mercado residencial devido ao alto custo da medição. Agora, com tecnologias e medidores eletrônicos em evolução, será factível.”
Segundo ele, aqueles clientes que gerenciarem o uso, poderão ter redução na conta. Mas, quem não gerenciar, poderá ter aumento”, destacou o VP da Enersul.
Considerado passo fundamental para essa nova realidade, o Programa Nacional de Substituição dos Medidores, que tem passado por uma série de audiências públicas, deverá ser anunciado entre o final deste ano e início de 2012 também pela Aneel.
Boccuzzi explicou que o a mudança dos equipamentos se dará de forma gradativa a partir de 2014, sendo que primeiro serão contemplados os grandes consumidores. Será necessário debater até que faixa de consumo a substituição será feita, isto é, a avaliação da real necessidade de se contemplar pequenos consumidores de energia. “Contudo, há a possibilidade de lançamento da modalidade pré-paga, que será interessante para o gerenciamento.”
O governo ainda terá que definir a fórmula de custeio dos equipamentos, se haverá repasse às tarífas ou se as empresas vão financiar, assumindo margens mais apertadas.
"As regulamentações estão em andamento, mas de maneira muito solta. Falta uma política de governo, que transcenda mandatos", criticou o engenheiro.
Eficiência e sustentabilidade
O smart grid permitirá que os clientes interconectem suas células fotovoltaicas (painéis solares) ou pequenas turbinas de geração eólica, como uma tecnologia plug and play, sendo que o excedente poderá ser vendido à rede.
O novo sistema, conforme o vice-presidente da Enersul, viabilizará ainda a redução de perdas de energia em função de maior controle, medição e gerenciamento da energia distribuída pelas concessionárias e diminuição de interrupções e problemas de qualidade.
O diretor de Smart Grid, Guilherme Mendonça, destacou que as tecnologias aplicadas ao setor de energia são prementes para uma eficiente distribuição de energia em um cenário de crescente urbanização, necessidade de ampliação da matriz renovável e redução de emissões de gases causadores do efeito estufa. “As redes inteligentes serão fundamentais para um futuro mais sustentável”, concluiu.
Fonte: AMCHAM